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Um ano de muitas conquistas


Centro-dia Pasárgada celebra seu primeiro aniversário comemorando as vitórias pessoais de seus frequentadores

Uma tristeza repentina, um descaso com os cuidados pessoais, a perda de memória. Esses foram os primeiros sinais da doença de Alzheimer em Vera, mãe de Marcela, antes mesmo dela completar 70 anos.

O que fazer diante dessa situação? Cenário parecido aconteceu na vida da artista plástica Maria Aparecida. Ela também se viu, de repente, diante da tristeza e quietude da mãe, Clarice, que perdeu o ânimo para a vida.

Marcela confessa: “Aos poucos, comecei a perceber mudanças no comportamento da minha mãe. Eu não sabia como lidar com essa situação, mas tive de aprender. Vi que ela estava demandando atenção especial. Pesquisei na internet se deveria contratar um cuidador, levar minha mãe para uma casa de repouso ou buscar um grupo de apoio... o fato é que em nossa sociedade não estamos preparados para o envelhecimento.”

Nessa procura, ela se deparou com o conceito de centro-dia, que até então não conhecia. “Visitei alguns, mas não gostei. Tampouco achei que minha mãe ficaria bem numa casa de repouso. Percebi que muitos lugares não oferecem atividades personalizadas. Têm uma programação fixa, como se fossem uma academia, e tratam todos os idosos de forma muito parecida. Não enxergam as peculiaridades de cada um.”

Em sua pesquisa, Marcela se viu frente a frente com outra questão. “A ideia que fazemos do velho é ultrapassada. Achamos que ele precisa repousar, ficar parado, quando é o contrário. Ele precisa de estímulos.”

Terapeuta ocupacional, mestre em gerontologia e pesquisadora do assunto há anos, Vanessa Idargo Mutchnik sempre acreditou num modelo diferenciado de atendimento para o idoso. Segundo ela, a falta de independência pode ser um fator que detona um processo sério de isolamento social na vida de uma pessoa idosa. E o isolamento, por sua vez, segundo Vanessa, pode desencadear a depressão. Diante desse quadro, surgem com facilidade outras patologias.

“Uma pessoa que não ouve bem, por exemplo, ou tem dificuldade para andar, deixa de sair de casa, por conta das dificuldades. Minha proposta é justamente reverter esse quadro, acolhendo o idoso com todas as suas fragilidades e oferecendo a ele atividades personalizadas, que de fato contribuam para o seu desenvolvimento”, diz Vanessa, que celebra, este mês, um ano de funcionamento do centro-dia idealizado por ela, o Pasárgada.

É lá que se encontram semanalmente Clarice e Vera, ao lado de outras senhoras e alguns senhores. Entre esses, está Reynaldo, pai de Roberto. Ele conta que o pai, que chegou ao Pasárgada muito debilitado por conta de um AVC, já apresenta evidentes sinais de recuperação.

“Logo na primeira semana ele voltou a falar frases completas e a lembrar de fatos recentes. Depois de mais alguns dias frequentando o local, meu pai, que só se deslocava de cadeira de rodas, voltou a ficar em pé e a comer sozinho. Agora já faz até algumas brincadeiras, lê e joga dominó”, comemora Roberto.

A melhora no pai é um alento para todos, e acaba gerando um movimento positivo. Se está mais ativo, disposto e participativo, acaba por se integrar aos programas da família. E, com isso, seu desenvolvimento se amplia.

Maria Aparecida, filha de Clarice, conta que a mãe saiu de seu isolamento. “Ela começou a acreditar mais nela. Passou a ter opinião, a manifestar seus desejos, coisa que nunca fez em casa.” Além disso, com apoio das atividades do Pasárgada, se descobriu no trabalho de pintura da filha.

Clarice ficou tão bem em sua rotina que foi estimulada a fazer outras atividades, além das que já realizava no Pasárgada. Voltou, aos poucos, a andar sozinha pela cidade, usar transporte público e se organizar nas atividades diárias.

Com Vera, o processo de desenvolvimento foi parecido. No curso da doença, ela tinha fases de depressão e agressividade. O atendimento personalizado que recebeu no Pasárgada fez toda a diferença. “Ela se transformou de dentro para fora”, diz a filha Marcela. Integrou-se às atividades propostas, mas a seu tempo. “Minha mãe adora natureza. Ela retomou o gosto por caminhadas no Parque da Aclimação e, para ela, o local é o quintal do Pasárgada”, conta Marcela. O mais importante, porém, foi o trabalho de resgate das relações sociais. “Ela recuperou o brilho nos olhos, está feliz”, resume.

A melhora da mãe ela credita ao tipo de acolhimento proposto por Vanessa e sua equipe, e ao uso de medicamento adequado.

Clarice também despertou mais para a vida indo ao centro-dia. “Ela passava o dia dormindo”, aponta Maria Aparecida. Não tinha vontade de nada e estava ficando muito esquecida e confusa.

A frequência no centro-dia fez com que ela percebesse melhor seus desejos, diz a filha. “Minha mãe ganhou em autonomia e passou a opinar, ter vontade própria. Isso melhorou sua autoestima, ela se deu conta de que tem voz e de que precisa ser ouvida.” Segundo Aparecida, o que o Pasárgada faz de melhor é justamente estimular a capacidade de desenvolvimento de cada pessoa.

No centro-dia, o objetivo é revalorizar os idosos, buscando em suas próprias histórias de vida o que faz de fato sentido para cada um. Fragilizados, eles sentem sua potência diminuir e tendem a se fechar. “Queremos quebrar esse ciclo, resgatar significados em suas vidas. Apostamos no desenvolvimento contínuo de cada um”, explica Vanessa.

“Em nosso trabalho acreditamos que todos os idosos podem frequentar um centro-dia. Nossa proposta é oferecer as condições adequadas para que cada um desenvolva seu potencial, mesmo com muitas patologias e extrema fragilidade. Lidamos com pessoas com diversas perdas cognitivas, motoras, sociais e, partindo, desse ponto sabemos que precisamos estar bem preparados para lidar com toda a diversidade humana na velhice e na fragilidade. Isso demanda a contratação de diversos profissionais, que compõem uma equipe extremamente qualificada, e que são instrumentos na conquista dos objetivos dos idosos e não o contrário”, diz Vanessa.

Segundo ela, ainda é comum ouvir relatos de especialistas atribuindo ao idoso a responsabilidade por não ser aceito em outros serviços, por não se “ajustar à proposta do local”, por mal comportamento ou falta de interação social.

“No Pasárgada a meta é outra, o serviço se empenha em desenvolver novas estratégias para atender a necessidade de cada idoso e apoiá-los em seu desenvolvimento, mesmo com todas as dificuldades apresentadas.

Por tudo isso, é nas vitórias pessoais de seus usuários que estão os motivos para a celebração do primeiro ano de funcionamento do Centro-dia Pasárgada.


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